Órgão Consultivo

Categoria: Informações em Processos de Consulta
Número:234/2024 - UDCR/UNERC
Data da Aprovação:10/08/2024
Assunto:Obrigação Principal/Acessória
Aquisições interestaduais
Diferencial Alíquota
Ativo Imobilizado
Veículo Usado


Nota Explicativa :
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Texto
INFORMAÇÃO 234/2024 - UDCR/UNERC
EMENTA:ICMS – OBRIGAÇÃO PRINCIPAL – AQUISIÇÃO INTERESTADUAL DIFERENCIAL DE ALÍQUOTAS – DESTINATÁRIO CONTRIBUINTE – ATIVO IMOBILIZADO – VEÍCULO USADO – DECRETO N° 649/2023 – INAPLICABILIDADE DO BENEFÍCIO FISCAL ESTABELECIDO NO ARTIGO 54 DO ANEXO V DO RICMS.

O artigo 54 do Anexo V do RICMS/2014 concede benefícios fiscais exclusivamente para operações de saída de mercadorias e bens usados, não se aplicando às aquisições interestaduais de bens destinados ao uso, consumo ou integração ao ativo imobilizado (entrada).

Na aquisição interestadual de bens ou mercadorias para uso, consumo ou ativo imobilizado por contribuinte do imposto, é devido o ICMS a título de diferencial de alíquotas.

Nas aquisições interestaduais de mercadorias ou bens para consumo final por contribuintes, a base de cálculo do ICMS é "dupla", com uma base de cálculo para apurar o imposto devido ao Estado de origem e outra para apurar o valor a recolher ao Estado de destino. Ambas as bases compartilham o valor da operação, incluindo frete, seguro, impostos e outros encargos, além do próprio imposto, nos termos dos §§ 1º e 1º-A do artigo 96 do RICMS, conforme redação dada pelo Decreto n° 649/2023, com efeitos a partir de 1°/01/2024.


..., pessoa jurídica, estabelecida na Avenida ..., n° ..., Setor e Sala ..., ..., em .../MT, inscrita no CNPJ sob o n° ... e no Cadastro de Contribuintes deste Estado sob o n° ..., formula consulta sobre o imposto devido a título de diferencial de alíquotas na aquisição de veículos usados, considerando o benefício previsto no artigo 54 do Anexo V do RICMS/MT.

Para tanto, a consulente que desenvolve a atividade de transportes rodoviário de produtos perigosos, e que é optante pelo Simples Nacional, relata que efetivou a compra de um veículo usado, denominado “Caminhão Volvo FH 540 6X4T”, através da NF-e nº ..., em anexo, em .../.../..., pelo valor de R$ ... (oitocentos e noventa mil reais), em operação interestadual (Curitiba/PR).

Entende que, nessa operação é devido o ICMS diferencial de alíquotas e, acrescenta que o vendedor usufruiu do benefício de redução da base de cálculo do ICMS a 95%, conforme legislação do Estado de origem (Paraná).

Diante disso, a consulente apresenta os seguintes questionamentos:

1 - A consulente pode utilizar do benefício fiscal de redução da base de cálculo do ICMS a 95% (noventa e cinco por cento) destacado na Nota Fiscal de aquisição, conforme exemplo abaixo:

Valor mercadoria R$ 890.000,00 - Redução de 95% = BC R$ 44.500,00

Valor crédito do ICMS R$ 44.500,00 X 7% = R$ 3.115,00 (ICMS recolhido pelo emitente)

Cálculo DIFAL R$ 44.500,00 X 17% = R$ 7.565,00 – R$ 3.115,00 = R$ 4.450,00

Valor DIFAL a recolher R$ 4.450,00

Por fim, declara o consulente que, não se encontra sob procedimento fiscal iniciado ou já instaurado para apurar fatos relacionados com a matéria objeto da presente consulta e que as dúvidas suscitadas não foram objeto de consulta anterior ou de decisão proferida em processo administrativo já findo, em que tenha sido parte.

É a consulta.

Preliminarmente, cumpre informar que, em pesquisa ao Sistema de Gerenciamento de Cadastro de Contribuintes de ICMS da SEFAZ, verifica-se que a consulente se encontra enquadrada na CNAE principal: 4930-2/03 - Transporte rodoviário de produtos perigosos, bem como que se encontra enquadrada no Regime Normal de Apuração do imposto, conforme artigo 131 do RICMS e que, também, é optante pelo Regime diferenciado do Simples Nacional.

I – Do Simples Nacional.

No tocante ao regime do Simples Nacional, convém esclarecer que o referido tratamento diferenciado e favorecido a ser dispensado às microempresas e empresas de pequeno porte não alcança as operações com mercadorias sujeitas à substituição tributária, a recolhimentos antecipados de imposto, bem como ao ICMS Diferencial de Alíquotas, conforme preceitua o artigo 13, § 1º, inciso XIII, alíneas “a”, “g” e “h”, da Lei Complementar nº 123/2006, que institui a referida sistemática de tributação, vide transcrição:

Nesses casos, tais operações estarão submetidas à legislação estadual aplicável aos demais contribuintes mato-grossenses não optantes pelo aludido regime diferenciado e favorecido de que trata a LC nº 123/2006.

II – Do benefício de redução de base de cálculo conferido às saídas de mercadorias usadas.

A previsão de redução de base de cálculo nas operações de comercialização de mercadorias usadas decorre do Convênio ICM 15/81, que concede o referido benefício, desde que cumpridas as condições previstas no § 1º da sua cláusula primeira, bem como autoriza os Estados e o Distrito Federal a estender a redução da base de cálculo às saídas de móveis, motores e vestuário usados.

Destaca-se que, posteriormente, foi celebrado o Convênio ICMS 33/93, que autorizou os Estados e o Distrito Federal a elevar o percentual de redução da base de cálculo nas saídas de máquinas, aparelhos e veículos usados, para até 95% (noventa e cinco por cento), exclusivamente em relação às máquinas, aparelhos e veículos usados.

As normas preconizadas nos Convênios ICM 15/81 e no Convênio ICMS 33/93 encontram-se disciplinadas no Regulamento do ICMS deste Estado, aprovado pelo Decreto nº 2.212, de 20/03/2014, RICMS/2014, no artigo 54 do Anexo V, que estabelece:

Da análise do artigo 54 do Anexo V do RICMS/2014, infere-se que o benefício contempla as operações de saídas de mercadorias e bens usados, portanto, não abrange as operações de aquisição (entrada) de bens e mercadorias destinados a uso ou consumo ou à integração ao ativo imobilizado.

Em outras palavras, fica afastada a aplicação do benefício fiscal previsto no artigo 54 do Anexo V na aquisição do veículo usado em comento (entrada), pois este benefício é aplicável apenas nas operações de saída.

II – Do ICMS devido a título de diferencial de alíquotas.

A entrada, no estabelecimento de contribuinte, de bem ou mercadoria destinada a uso, consumo ou ativo permanente, configura hipótese de incidência do ICMS diferencial de alíquotas, conforme prevê o Regulamento do ICMS deste Estado, aprovado pelo Decreto nº 2.212/2014, RICMS.

A Lei Complementar n° 190/2022 trouxe alterações no ICMS devido pela diferença de alíquotas (interna e interestadual) nas aquisições interestaduais por contribuintes. Essas mudanças foram incorporadas na legislação do Estado de Mato Grosso por meio do Decreto n° 649/2023, com efeitos a partir de 1° de janeiro de 2024.

Tendo em vista que, no caso vertente, a aquisição do bem ocorreu em abril de 2024, reproduz-se a seguir, os dispositivos do RICMS que tratam da exigência do imposto e o respectivo cálculo, já na redação vigente à época da aquisição:


Assim, em síntese, da leitura dos dispositivos legais transcritos infere-se que a base de cálculo do ICMS nas aquisições interestaduais de mercadorias ou bens para consumo final, realizadas por contribuintes, será "base dupla".

Desse modo, haverá uma base de cálculo para apurar o imposto devido ao Estado de origem e outra para calcular o valor a recolher ao Estado de destino, ambas considerando o valor da operação, incluindo frete, seguro, impostos e outros encargos, sempre incluindo o montante do próprio imposto.

Por fim, ante todo o exposto, passa-se a responder o questionamento apresentado pela consulente, como segue:

A consulente pode utilizar do benefício fiscal de redução da base de cálculo do ICMS a 95% (noventa e cinco por cento) destacado na Nota Fiscal de aquisição, conforme exemplo abaixo:

Valor mercadoria R$ 890.000,00 - Redução de 95% = BC R$ 44.500,00

Valor crédito do ICMS R$ 44.500,00 X 7% = R$ 3.115,00 (ICMS recolhido pelo emitente)

Cálculo DIFAL R$ 44.500,00 X 17% = R$ 7.565,00 – R$ 3.115,00 = R$ 4.450,00

Valor DIFAL a recolher R$ 4.450,00

Não, os benefícios previstos no artigo 54 do Anexo V do RICMS são aplicáveis exclusivamente às operações de saída, e, portanto, não se aplicam à operação de entrada do bem em questão.

Reitera-se que, a partir de 1º/01/2024, com a entrada em vigor das novas regras trazidas pelo Decreto estadual nº 649/2023 em consonância com a Lei Complementar federal nº 190/2022, na aquisição interestadual de bens ou mercadorias para uso consumo ou para integração ao ativo imobilizado de estabelecimento de contribuinte do ICMS, a base de cálculo do ICMS será "base dupla", considerando o valor da operação, incluindo encargos, tanto no Estado de origem quanto no de destino, e incluindo o imposto, nos termos do inciso IX e §§ 5º e 5°-A do artigo 72 do RICMS.

A alíquota interestadual varia conforme a origem da mercadoria ou sua situação tributária: 4% para mercadorias abrangidas pela Resolução do Senado Federal 13/2012, 7% para as regiões Sul e Sudeste (exceto Espírito Santo) e 12% para as demais regiões, incluindo o Espírito Santo.

Exemplo: Operação de aquisição interestadual (origem Estado do Paraná) por consumidor final, contribuinte do imposto:
A
Valor da operação descrito na NF-e
R$ 899.000,00
B
Valor do ICMS na origem destacado na NF-e
R$ 3.115,00
C
Valor da mercadoria (A – B)
R$ 895.885,00
D
Alíquota interna do ICMS no destino
17%
E
Base de cálculo da operação no destino [C / (1 – D)]
R$ 1.079.379,52
F
ICMS total devido (E x D)
R$ 183.494,52
G
Alíquota interestadual na origem
7%
H
Base de cálculo da operação na origem, caso integralmente tributada (imposto por dentro) [C / (1 – G)]
R$ 963.317,20
I
Valor do ICMS da origem pela alíquota interestadual (H x G)
R$ 67.432,20
J
Valor do ICMS DIFAL [F - I)
R$ 116.062,31
Informa-se que está disponibilizada no site da Secretaria de Fazenda a Nota Técnica n° 018/2024-UDCR/UNERC que exemplifica o cálculo do ICMS a título de diferencial de alíquotas devido pela aquisição interestadual quando há benefício fiscal na unidade federada de origem, no seguinte endereço: http://app1.sefaz.mt.gov.br/04256E4C004D9CE4/A846E70F044285D7042572F9004EEAA2/37F3D5E5413D112704258AFD004709C0

Por fim, registra-se que não produzirá os efeitos legais previstos no artigo 1.002 e no parágrafo único do artigo 1.005 do RICMS a consulta respondida sobre matéria que esteja enquadrada em qualquer das situações previstas nos incisos do caput do artigo 1.008 do mesmo Regulamento.

Alerta-se que, em sendo o procedimento adotado pela consulente diverso do aqui indicado, respeitado o quinquênio decadencial, deverá, no prazo de 15 (quinze) dias úteis, contados da ciência da presente, regularizar suas operações, inclusive com recolhimento de eventuais diferenças de imposto, ainda sob os benefícios da espontaneidade, com acréscimo de correção monetária, juros e multa de mora, calculados desde o vencimento da obrigação até a data do efetivo pagamento.

Após o transcurso do prazo apontado, ficará o estabelecimento consulente sujeito ao lançamento de ofício, para exigência de eventuais diferenças, nos termos do artigo 1.004 do RICMS.

Assinala-se que esta resposta não se enquadra nas hipóteses do § 2° do artigo 995 do RICMS, conforme redação dada pelo Decreto n° 552, de 26 de outubro de 2023, logo não se submete à análise do Conselho Superior da Receita Pública – CSRP.

É a informação, ora submetida à superior consideração.

Unidade de Divulgação e Consultoria de Normas da Receita Pública da Unidade de Uniformização de Entendimentos e Resolução de Conflitos, em Cuiabá/MT, 08 de outubro de 2024.


Francislaine Cristini Vidal Marchesin Garcia Rúbio
FTE

De acordo:

Andrea Angela Vicari Weissheimer
Chefe de Unidade – UDCR/UNERC

Aprovada.

Erlaine Rodrigues Silva
Chefe da Unidade de Uniformização de Entendimentos e Resolução de Conflitos